sábado, 25 de outubro de 2008




Peço desculpas

Frei Betto *
Estou gravemente enfermo. Gostaria de manifestar publicamente minhas escusas a todos que confiaram cegamente em mim. Acreditaram em meu suposto poder de multiplicar fortunas. Depositaram em minhas mãos o fruto de anos de trabalho, de economias familiares, o capital de seus empreendimentos.

Peço desculpas a quem assiste às suas economias evaporarem pelas chaminés virtuais das Bolsas de Valores, bem como àqueles que se encontram asfixiados pela inadimplência, os juros altos, a escassez de crédito, a proximidade da recessão.

Sei que nas últimas décadas extrapolei meus próprios limites. Arvorei-me em rei Midas, criei em torno de mim uma legião de devotos, como se eu tivesse poderes divinos. Meus apóstolos - os economistas neoliberais - saíram pelo mundo a apregoar que a saúde financeira dos países estaria tanto melhor quanto mais eles se ajoelhassem a meus pés.

Fiz governos e opinião pública acreditarem que o meu êxito seria proporcional à minha liberdade. Desatei-me das amarras da produção e do Estado, das leis e da moralidade. Reduzi todos os valores ao cassino global das Bolsas, transformei o crédito em produto de consumo, convenci parcela significativa da humanidade de que eu seria capaz de operar o milagre de fazer brotar dinheiro do próprio dinheiro, sem o lastro de bens e serviços.

Abracei a fé de que, frente às turbulências, eu seria capaz de me auto-regular, como ocorria à natureza antes de ter seu equilíbrio afetado pela ação predatória da chamada civilização. Tornei-me onipotente, supus-me onisciente, impus-me ao planeta como onipresente. Globalizei-me.

Passei a jamais fechar os olhos. Se a Bolsa de Tóquio silenciava à noite, lá estava eu eufórico na de São Paulo; se a de Nova York encerrava em baixa, eu me recompensava com a alta de Londres. Meu pregão em Wall Street fez de sua abertura uma liturgia televisionada para todo o orbe terrestre. Transformei-me na cornucópia de cuja boca muitos acreditavam que haveria sempre de jorrar riqueza fácil, imediata, abundante.

Peço desculpas por ter enganado a tantos em tão pouco tempo; em especial aos economistas que muito se esforçaram para tentar imunizar-me das influências do Estado. Sei que, agora, suas teorias derretem como suas ações, e o estado de depressão em que vivem se compara ao dos bancos e das grandes empresas.

Peço desculpas por induzir multidões a acolher, como santificadas, as palavras de meu sumo pontífice Alan Greenspan, que ocupou a sé financeira durante dezenove anos. Admito ter ele incorrido no pecado mortal de manter os juros baixos, inferiores ao índice da inflação, por longo período. Assim, estimulou milhões de usamericanos à busca de realizarem o sonho da casa própria. Obtiveram créditos, compraram imóveis e, devido ao aumento da demanda, elevei os preços e pressionei a inflação. Para contê-la, o governo subiu os juros... e a inadimplência se multiplicou como uma peste, minando a suposta solidez do sistema bancário.

Sofri um colapso. Os paradigmas que me sustentavam foram engolidos pela imprevisibilidade do buraco negro da falta de crédito. A fonte secou. Com as sandálias da humildade nos pés, rogo ao Estado que me proteja de uma morte vergonhosa. Não posso suportar a idéia de que eu, e não uma revolução de esquerda, sou o único responsável pela progressiva estatização do sistema financeiro. Não posso imaginar-me tutelado pelos governos, como nos países socialistas. Logo agora que os Bancos Centrais, uma instituição pública, ganhavam autonomia em relação aos governos que os criaram e tomavam assento na ceia de meus cardeais, o que vejo? Desmorona toda a cantilena de que fora de mim não há salvação.

Peço desculpas antecipadas pela quebradeira que se desencadeará neste mundo globalizado. Adeus ao crédito consignado! Os juros subirão na proporção da insegurança generalizada. Fechadas as torneiras do crédito, o consumidor se armará de cautelas e as empresas padecerão a sede de capital; obrigadas a reduzir a produção, farão o mesmo com o número de trabalhadores. Países exportadores, como o Brasil, verão menos clientes do outro lado do balcão; portanto, trarão menos dinheiro para dentro de seu caixa e precisarão repensar suas políticas econômicas.

Peço desculpas aos contribuintes dos países ricos que vêem seus impostos servirem de bóia de salvamento de bancos e financeiras, fortuna que deveria ser aplicada em direitos sociais, preservação ambiental e cultura.

Eu, o mercado, peço desculpas por haver cometido tantos pecados e, agora, transferir a vocês o ônus da penitência. Sei que sou cínico, perverso, ganancioso. Só me resta suplicar para que o Estado tenha piedade de mim.

Não ouso pedir perdão a Deus, cujo lugar almejei ocupar. Suponho que, a esta hora, Ele me olha lá de cima com aquele mesmo sorriso irônico com que presenciou a derrocada da torre de Babel.

[Autor de "Cartas da Prisão" (Agir), entre outros livros].


* Escritor e assessor de movimentos sociais

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Chora oposição!: Aprovação ao presidente Lula bate recorde histórico, aponta pesquisa

Lula dá um banho!

Pela 1ª vez, Lula é aprovado por todos segmentos sociais
Avaliação positiva do presidente passa de 50% até entre os mais ricos e escolarizados

Pesquisa Datafolha mostra que 64% dos brasileiros consideram o governo ótimo ou bom, recorde depois da redemocratização


Já faz algum tempo que eu venho falando sobre o alto indíce de aprovação do Presidente Lula. Até então, a pesquisa era apenas interna, encomendada por partidos. Hoje, para minha surpresa, e acho que a de vocês também, está estampado na manchete de capa do jornal Folha de S.Paulo a notícia:Aprovação ao presidente Lula bate recorde histórico, aponta pesquisa" Para mim não é supresa o recorde histórico, mas sim a manchete na capa do jornal.

Embalado por fortes resultados na economia e por grande exposição nacional na atual campanha eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quebrou o seu próprio recorde de avaliação positiva.

Lula também acaba de obter, pela primeira vez, a aprovação da maioria absoluta da população brasileira em todos os segmentos sociais, econômicos e geográficos do país. Segundo pesquisa Datafolha finalizada ontem, 64% da população brasileira considera o governo Lula ótimo ou bom. O recorde anterior já colocava Lula na frente de todos os presidentes eleitos após a redemocratização -55% de aprovação registrados em março passado.

O levantamento revela também que a popularidade de Lula acaba de vencer a resistência de segmentos socioeconômicos específicos que mantinham, entre eles, o índice de aprovação abaixo de 50%.

Pela primeira vez, Lula tem o apoio da maioria no Sudeste, nas regiões metropolitanas, entre os que têm curso superior e entre os vivem em famílias com renda familiar mensal superior a dez salários mínimos.

Entre a pesquisa realizada em março e agora, houve um salto a favor de Lula de 14 pontos percentuais entre os brasileiros mais ricos. Hoje, 57% dos que vivem em famílias que ganham R$ 4.150,00 ou mais por mês aprovam seu governo. Lula também conquistou pela primeira vez a maioria no Sudeste: 57% o aprovam, dez pontos acima da última pesquisa. Há alguns anos Lula também só tinha a maioria ao seu lado em regiões do interior. Agora, 57% dos moradores das regiões metropolitanas o aprovam.

Por fim, Lula também venceu a barreira entre os mais escolarizados. Em março, 47% dos brasileiros com curso superior consideravam seu governo ótimo/bom. Agora, são 55%.

Os resultados da pesquisa coincidem com a divulgação, anteontem, de um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 6% no primeiro semestre do ano. Nesse bom resultado, houve uma significativa participação do consumo das famílias brasileiras, que cresceu 6,7% (a 19ª alta seguida) apoiado em aumentos da renda.

A expressiva avaliação de Lula aparece também no momento em que a inflação começa a ceder depois de ter atingido um pico neste ano, há três meses.

Coincide ainda com a participação pessoal ou do nome de Lula em várias campanhas municipais, além de grande exposição do presidente nos últimos dias por conta do início (ainda que simbólico) da produção de petróleo nas recém-descobertas reservas do pré-sal.

"A pesquisa mostra que Lula vem quebrando resistências, especialmente entre os principais segmentos da classe média, o que é muito significativo", afirma o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino.Na pesquisa, o Datafolha ouviu 2.981 pessoas maiores de 16 anos em 212 municípios do país entre os dias 8 e 11 de setembro. A margem de erro é de dois pontos, para mais ou menos.

Além de ter ultrapassado barreiras, o levantamento revela que Lula também ampliou de maneira significativa o reforço à sua popularidade entre os que já o apoiavam. No Nordeste, por exemplo, região que sempre deu os melhores índices de popularidade a Lula, sua avaliação subiu mais sete pontos. Hoje, 3 entre cada 4 nordestinos o apóiam.

Houve ainda um salto de oito pontos percentuais a favor do presidente entre os mais pobres, com renda familiar até cinco salários mínimos. Atualmente, 65% desses brasileiros avaliam Lula positivamente.

Como vocês podem notar, nem a armação do grampo encomendado por Gilmar Mendes/ Demóstenes Torres, abalaram a avaliação do Presidente Lula. A dulpla, vai ter que achar outro motivo para tentar desgastar o Presidente

Fonte:www.osamigosdopresidentelula.blogspot.com



sexta-feira, 5 de setembro de 2008



PT e PSDB de mãos dadas


Frei Betto

Nunca vi cabeça de bacalhau, mendigo careca, santo de óculos, ex-corrupto, nem filho de prostituta chamado Júnior. Nunca imaginei que, fora dos grotões, onde o compadrio prevalece sobre princípios ideológicos, veria uma aliança entre PT e PSDB. Mas o impossível acontece em Belo Horizonte, com ampla aprovação das bases petistas.

Mudei eu ou mudou o Natal? Sim, sei que Minas, onde nasci, é terra estranha, o inusitado campeia à solta: mula-sem-cabeça, lobisomem, chupa-cabra, discos voadores... Criança, vi na Praça Sete, na capital mineira, uma enorme baleia exposta à visitação pública na carroceria de uma jamanta. A Moby Dicky embalsamada exalava um forte mau cheiro que obrigou as esculturas indígenas do Edifício Acaiaca a tapar o nariz.

O que foi feito da grita do PT belo-horizontino sob oito anos de governo FHC? Em que bases programáticas a aliança se estabeleceu? Quem cedeu a quem? Quem traiu seus princípios políticos e históricos?

Lembro dos anos 50/60, quando o conservador PSD, de JK, fez aliança com o progressista PTB, de Jango. O primeiro neutralizou o segundo. E o sindicalismo, até então combativo, ingressou na era do peleguismo. No cenário internacional, o Partido Trabalhista inglês aceitou aliar-se ao Partido Republicano dos EUA. Nunca mais o inglês foi o mesmo, a ponto de apoiar a invasão do Iraque.

Só uma razão é capaz de explicar essa aproximação de pólos opostos: a lógica do poder pelo poder. Quando um partido decide que sua prioridade é assegurar a seus quadros funções de poder, e não mais representar os anseios dos pobres e promover mudanças num país de estruturas arcaicas como o Brasil, é sinal de que se deixou vencer pelas forças conservadoras. E não me surpreende que nisso conte com amplo apoio das bases, sobretudo quando se observa que a antiga militância, impregnada de utopia, cede lugar a filiados obcecados por cargos públicos.

Tenho visto, em cinco décadas de militância, como síndrome de Jó ameaça certos políticos de esquerda. Enquanto estão fora do poder e são oposição, nutrem-se de uma coerência capaz de fazer corar são Francisco de Assis. Alçados ao poder, inicia-se o lento processo de metamorfose ambulante: princípios cedem lugar a interesses; companheiros a aliados; lutas por ideais a vitórias eleitorais.

Jó, submetido às mais duras provas, perdeu tudo, exceto a fé, suas convicções. Tais políticos, diante de um fracasso eleitoral ou perda de função pública, esquecem os princípios e valores em que acreditaram, defenderam, discursaram, escreveram e assinaram, para salvar a própria pele. Horroriza-os a perspectiva de voltarem a ser cidadãos comuns, desprovidos de mordomias e olhares bajuladores. Ainda vão à periferia, desde que como autoridades, jamais como militantes.

Talvez eu tenha ficado antigo, dinossáurico, incapaz de entender como um partido que sempre se aliou ao PFL, agora DEM, pode, de repente, sentir-se à vontade de mãos dadas com o PT. Não que tenha preconceito a peessedebistas. Sou amigos de muitos, incluído o governador José Serra. Mas quem viver verá: se o candidato da aliança PT-PSDB for eleito prefeito de Belo Horizonte, o palanque de Minas, nas eleições presidenciais de 2010, vai ser aquela saia-justa.

Minas é uma terra de mistérios: tem ouro preto, dores de indaiá, mar de Espanha, juiz de fora, rio acima e lagoa santa. E fora de Minas tenho visto coisas que já nem me espantam: Sarney e Delfim Netto apóiam Lula; o governo do PT aprova os transgênicos e a transposição do Rio São Francisco; o Planalto petista revela gastos da gestão FHC e esconde os seus...

Os tempos e os costumes mudam, já diziam os latinos; as pessoas e os partidos também. Eu é que deveria ficar mudo, já que teimo em acreditar que fora da ética e dos pobres a política não tem salvação. Deve ser culpa de minha dificuldade de entender por que às vésperas de eleições todos debatem nomes de candidatos. E não propostas, programas e prioridades de governo.

Frei Betto é escritor, autor de “A mosca azul – reflexão sobre o poder” (Rocco), entre outros livros.



terça-feira, 5 de agosto de 2008

Mémoria dos 63 anos do bombardeio sobre Hiroshima e Nagasaki

Na manhã de 6 de Agosto de 1945, um bombardeiro da Forças Aéreas dos Estados Unidos lançou a bomba atômica
Little Boy na japonesa de cidade Hiroshima à qual se seguiu, três dias mais tarde,outra detonação nuclear, Fat Man, sobre Nagasaki.
As estimativas do número total de mortos variam entre 100 mil e 220mil, sendo algumas estimativas consideravelmente mais elevadas quandosão contabilizadas as mortes posteriores devido à exposição à radiação. Mais de 90% dos mortos eram civis.




A nuvem em forma de cogumelo deixada pela bomba atômica que explodiu a 550 m. de altitude no centro de Hiroshima, Japão, a 6 de Agosto de 1945, atingiu 18 km de altura.

A rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças

Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas

Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária

A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica

Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada

Música: Rosa de Hiroshima
Autoria:
Vinícius de Moraes e Gerson Conrad

Não há caminho para a Paz, a Paz é o caminho.
(Gandhi)

sábado, 2 de agosto de 2008

Pesquisa do IBASE destrói mitos construídos contra o Bolsa Família

A revista CartaCapital (02/07/09) produziu excelente reportagem especial sobre o programa Bolsa Família. Nem tudo está perdido na mídia nacional. O jornalista Phydia de Athayde se baseou numa pesquisa do respeitável Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) para destruir sete principais mitos construídos pela mídia, pelos políticos conservadores ou por simples burrice mesmo.
PRIMEIRO MITO: “Não existe fome no Brasil”. Errado. Existe fome no Brasil, embora tenha havido avanços. Os indicadores foram aperfeiçoados. Agora existe a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar que determina se a situação é grave, como fome entre adultos e/ou crianças da família pesquisada, se a fome é moderada, com restrições na quantidade de alimentos, se a fome é leve, persistindo o receio de faltar comida. No Brasil há 6,1 milhões de lares em situação de insegurança alimentar, ou seja, 30 milhões de brasileiros.
SEGUNDO MITO: “O Bolsa Família não chega a quem precisa”. Errado. O programa atinge os mais pobres, mas não a todos, são 11,1 milhões de famílias, ou seja, 50 milhões de pessoas. Há dificuldades em atingir grupos vulneráveis, invisíveis, com endereço precário, alguns submetidos a trabalho escravo, há indígenas e quilombolas.
TERCEIRO MITO: “O programa é assistencialista”. Errado. Assistência Social é uma coisa, direito do cidadão, já o assistencialismo visa a tirar proveito político e eternizar a dependência. Há muito cinismo e desprezo quando ao direito à assistência do Estado. O Bolsa Família é uma política de Estado, regida por lei. Há contrapartidas, como a obrigação de vacinar e manter os filhos na escola. O Bolsa Família cria vínculos da população com o Estado e destrói a relação de dependência com políticos.
QUARTO MITO: “Receber o Bolsa Família acomoda”. Errado. O suposto efeito preguiça é a crítica mais costumeira do senso-comum. Os números desmentem esse argumento ideológico: 99,5% dos pesquisados não deixaram de trabalhar ou de gerar renda de alguma forma depois que passaram a receber o Bolsa Família. Apenas 0,5% deixaram suas ocupações, mas, destes, a maioria era submetida a trabalhos degradantes, como os cortadores de cana. Nestes casos, deixar o trabalho indigno é uma conquista da cidadania.
QUINTO MITO: “O pobre não sabe usar o dinheiro”. Errado. No Nordeste, 91% dos beneficiados usam o dinheiro para alimentação. No sul o percentual cai para 73%. O restante vai para material escolar, vestuário, remédios, gás, luz, água e tratamento médico. A alimentação consome 56% da renda total das famílias. Nas famílias que já têm o básico (feijão, arroz, açúcar, leite, óleos, ovos etc) o Bolsa Família permitiu acesso a complementos alimentares como frutas, verduras, carne e industrializados. A pesquisa do Ibase quantifica tudo isso. As mães disseram aos pesquisadores que elas gostam de oferecer “lanches” aos filhos, como biscoito e iogurte. Elas sabem, sim, usar muito bem o dinheiro.
SEXTO MITO: “O Bolsa Família acaba com a pobreza”. Errado. O programa é bem-sucedido no que se propõe, mas tem um limite. Não acaba com a pobreza. A simples transferência de renda não resolve os problemas sociais. O Bolsa Família alivia a pobreza imediata, reduz a pobreza nas gerações seguintes e precisa integrar-se a outras alternativas de desenvolvimento, a exemplo do Programa de Aquisição de Alimentos, Agricultura Familiar, Pronaf, Territórios da Cidadania, Brasil Alfabetizado, cursos de capacitação e acesso ao crédito. Ou seja, é preciso executar políticas públicas integradas para acabar com a pobreza.
SÉTIMO MITO: “O Bolsa Família é eleitoreiro”. Errado. Esse argumento é sempre usado pela oposição ao Governo Lula. A chiadeira é maior nos grotões tradicionalmente controlados pela elite financeira local. O preconceito, a má vontade e as críticas superficiais têm uma razão de ser. Nas últimas três eleições municipais (1996, 2000 e 2004) verificou-se um avanço dos partidos de esquerda e um recuo dos partidos de direita. Tem sido o efeito eleitoral do afastamento do intermediário local entre o eleitor e o Estado.

Fonte: http://bahiadefato.blogspot.com/2008/07/pe

Debate na Band: a vida "franciscana" de Alckmin... na Daslu??

O debate na Band dos candidatos à prefeitura de SP foi morno, sem grandes entrevérios.

Mas Alckmin produziu a piada da noite:

Disse que depois de 30 anos de campanha tem uma vida “franciscana”.

E os vestidos da D. Lu? As compras na Daslu? E o casamento da filha Sofia? E a ostentação de luxos na revista "Caras"?

Alckmin disse isso após ser questionado sobre quem financiará sua campanha, declarada ao TRE com o teto de R$ 25 milhões de gastos. Ivan Valente, do PSOL, afirmou que o buracão do Metrô é consequência indireta da promiscuidade entre financiadores de campanha.

Na maior cara de pau disse que "iria fazer uma campanha despojada"... depois de 30 anos de campanha tem uma vida “franciscana”.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

O que é neoliberalismo


O neoliberalismo é o novo caráter do velho capitalismo. Este adquiriu força hegemônica no mundo a partir da Revolução Industrial do século 19. O aprimoramento de máquinas capazes de reproduzir em grande escala o mesmo produto e a descoberta da eletricidade possibilitaram à indústria produzir, não em função de necessidades humanas, mas sobretudo visando ao aumento do lucro das empresas.

O excedente da produção e a mercadoria supérflua obtiveram na publicidade a alavanca de que necessitavam para induzir o homem a consumir, a comprar mais do que precisa e a necessitar do que, a rigor, é supérfluo e até mesmo prejudicial à saúde, como alimentos ricos em açúcares e gordura saturada.

O capitalismo é uma religião laica fundada em dogmas que, historicamente, merecem pouca credibilidade. Um deles reza que a economia é regida pela "mão invisible" do mercado. Ora, em muitos períodos o sistema entrou em colapso, obrigando o governo a intervir na economia para regular o mercado.

O fortalecimento do movimento sindical e do socialismo real, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial (1940-1945), ameaçou o capitalismo liberal, que tratou de disciplinar o mercado através dos chamados Estados de Bem-Estar Social (previdência, leis trabalhistas, subsídios à saúde e educação etc.).

Esse caráter "social" do capitalismo durou até fins da década de 1970 e início da década seguinte, quando os EUA se deram conta de que era insustentável a conversibilidade do dólar em ouro. Durante a guerra do Vietnã, os EUA emitiram dólares em excesso e isso fez aumentar o preço do petróleo. Tornou-se imperioso para o sistema recuperar a rentabilidade do capital. Em função deste objetivo várias medidas foram adotadas: golpes de Estado para estancar o avanço de conquistas sociais (caso do Brasil em 1964, quando foi derrubado o governo João Goulart), eleições de governantes conservadores (Reagan), cooptação dos social-democratas (Europa ocidental), fim dos Estado de Bem-Estar Social, utilização da dívida externa como forma de controle dos países periféricos pelos chamados organismos multilaterais (FMI, OMC etc.) e o processo de erosão do socialismo real no Leste europeu.

O socialismo ruiu naquela região por edificar um governo para o povo e não do povo e com o povo. À democracia econômica (socialização dos bens e serviços, e distribuição de renda) não se adicionou a democracia política; não nos moldes do Ocidente capitalista, mas fundada na participação ativa dos trabalhadores nos rumos da nação.

Nasceu, assim, o neoliberalismo, tendo como parteiro o Consenso de Washington a globalização do mercado "livre" e, segundo conveniências, do modelo norte-americano de democracia (jamais exigido aos países árabes fornecedores de petróleo e governados por oligarquias favoráveis aos interesses da Casa Branca).

O capitalismo transforma tudo em mercadoria, bens e serviços, incluindo a força de trabalho. O neoliberalismo o reforça, mercantilizando serviços essenciais, como os sistemas de saúde e educação, fornecimento de água e energia, sem poupar os bens simbólicos a cultura é reduzida a mero entretenimento; a arte passa a valer, não pelo valor estético da obra, mas pela fama do artista; a religião pulverizada em modismos; as singularidades étnicas encaradas como folclore; o controle da dieta alimentar; a manipulação de desejos inconfessáveis; as relações afetivas condicionadas pela glamourização das formas; a busca do elixir da eterna juventude e da imortalidade através de sofisticados recursos tecnocientíficos que prometem saúde perene e beleza exuberante.

Tudo isso restrito a um único espaço: o mercado, equivocadamente adjetivado de "livre". Nem o Estado escapa, reduzido a mero instrumento dos interesses dos setores dominantes, como tão bem analisou Marx. Sim, certas concessões são feitas às classes média e popular, desde que não afetem as estruturas do sistema e nem reduzam a acumulação da riqueza em mãos de uma minoria. No caso brasileiro, hoje os 10% mais ricos da população cerca de 18 milhões de pessoas têm em mãos 44% da riqueza nacional. Na outra ponta, os 10% mais pobres sobrevivem dividindo entre si 1% da renda nacional.

Milhares de pessoas consideram o neoliberalismo estágio avançado de civilização, assim como os contemporâneos de Aristóteles encaravam a escravidão um direito natural e os teólogos medievais consideravam a mulher um ser ontologicamente inferior ao homem. Se houve mudanças, não foi jamais por benevolência do poder.

* Frei Betto é escritor, autor de “Treze Contos Diabólicos e um Angélico”, que a editora Planeta fez chegar às livrarias em março.